É difícil, mas é necessário estar sempre preparado para, a qualquer momento, virar torresmo... Daqueles de boteco de rodoviária, do tipo que tem que passar prestobarba antes de mandar pra pança. Ser frito no trabalho não é nem de perto tão doloroso quanto ser literalmente frito em óleo fervente, a exemplo do que faziam os espanhóis com os incas, maias e astecas. Mas não deixa de ser uma morte em vida. Conta-se que um padre, no maior dó de um inca que seria frito no azeite, disse ao homem prestes a ser executado: - Filho, aceite Jesus e vá para o Paraíso! O inca olhou firmemente o padre e perguntou: - Há espanhóis no Paraíso? Sim, muitos, meu filho... respondeu-lhe o padre. Ao que o inca retrucou: - Então, prefiro ir pro inferno...
Queria ter a força moral daquele inca. Mas não tenho. A cada pequeno sinal de que “o gato subiu no telhado”, me deprimo. Sei que a vida é sinônimo de transição. Sei que só há uma coisa permanente: a mudança, conforme atestam a filosofia de Heráclito e os preceitos do Budismo. Mas não consigo evitar de imaginar se há motivos que justifiquem a um superior hierárquico não ser sincero e direto, agradecer minha colaboração, informar que não vê mais adequação entre minha forma de trabalhar e a empresa, enfim, me transformar logo em colírio de asfalto, me “pingar” no olho da rua e boa... Resolvida a questão, haveria um natural período de luto, depois ódio, depois foda-se: e eu voltaria à luta. Como de costume. Mas o processo não-caga-nem-sai-da moita, ou seja, a tal fritura, é dureza de encarar.
Um exemplo clássico de fritura corporativa: você está diretor de uma empresa, há uma reformulação e te transformam em coordenador. Ou seja, você agora está tecnicamente um degrau abaixo no orgasmograma (aquele quadro que indica quem está em condições de foder com quem...). Aí, realizam seu rebaixamento para a ”Série B Corporativa”, começam a te aborrecer com outros tipos de picuinhas: sua equipe de secretária, dois colaboradores e um estagiário bacana e cheio de potencial se transforma da noite para o dia, sempre devido a imperiosas necessidades etc e tal, em um estagiário (um novato que foi escolhido por outra pessoa, de outro setor).
Depois é a vez dos “danos colaterais”, ou seja, logo após a erupção do vulcão, vem o mar de lava quente. A picuinha clássica é te trocarem de sala. Assim como a Igreja tem as Dioceses e o Exército tem as Patentes, as empresas têm as salas. Logo, se resolverem te mudar de sala e você for o último a saber, no melhor estilo marido-corneado, não se iluda: você já está a frigir. Chegar para trabalhar e já encontrar suas coisas em uma caixa para serem levadas para o novo “endereço” é muito difícil. Mas seja forte. Mantenha a cabeça erguida. Invariavelmente sua nova sala será menor, menos equipada, menos ventilada e iluminada, com um computador menos eficiente, talvez seja melhor resumir assim: tudo será MENOS. Pior é sofrer a fritura máxima: ser transferido para uma baia e ainda ter que dividi-la com alguém, pra entender de uma vez por todas que é considerado um sujeito ruim de serviço. Fica aquela sensação de claustrofobia, tipo delegacia lotada. E as vantagens especiais então? Bônus por desempenho da empresa, comissões, carro, cartão corporativo, celular, ajudas de custeio, vaga na garagem, o que mais a empresa oferecia? Pode estar certo: tudo será empapado de óleo quente e derreterá.
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