25.8.11

Bebendo e aprendendo

Depois de um dia realmente exaustivo no trabalho, sendo que o cansaço vinha mais do gasto de energia espiritual do que de física (o trabalho não fora estafante, o ambiente de trabalho sim), vou a um bar para tomar algumas (muitas) cervejas com meus amigos. Descontrair, rir, falar bobagens. Costumamos fazer isso de quinze em quinze dias.

Cheguei mais cedo (coisa rara). A primeira cerveja, comecei a bebê-la sozinho.

A pizzaria que frequentamos tem uma varanda aberta, sentei-me em uma mesa ao lado da rua. Eis que vem passando um homem, 50 anos mais ou menos, bem vestido e carregando uma pasta daquelas de carregar lap tops. Ele olha no meu rosto, sorri (meio que envergonhado) e me indaga:
- Posso me assentar aí e te fazer uma pergunta?


Surpreso e um tanto confuso, balanço a cabeça afirmativamente. Ele entra na pizzaria, assenta-se na cadeira à minha frente, diz seu nome, sua profissão, o bairro onde mora e começa a falar sobre uma questão que ele acredita estar entravando sua vida. Questão de relacionamento. Gosta de estar em companhia de uma determinada mulher. Ele gosta de conversar com ela, gosta da qualidade do sexo com essa mulher, gosta de sua companhia. Porém, pessoas próximas - em quem ele confia muito - dizem que ela não serve para ele, para ele se afastar, dizem que ele está fazendo papel de idiota. Ele diz o quanto está triste.

Apesar de estar meio tenso e desconfortável com a inusitada situação, eu o ouvia atentamente, sem nada dizer. A um certo ponto, ele justifica por que me escolheu para ouví-lo:
- Você é um cara mais ou menos da minha idade, é casado - reparei na aliança em sua mão- e me pareceu ser uma pessoa boa. Não me conhece, não vai tomar partido e vai me dizer o que pensa de verdade. Acertei?


Percebi que era hora de responder. E o fiz com uma simples pergunta:
- Quem paga as suas contas?

Ele respondeu sem pestanejar: - Eu, uai!

Continuei em silêncio, olhando para ele. Ele começou a sorrir. Os olhos dele ficaram mais vívidos. Ele disse: - Puta que pariu! Algo me disse que você era o cara certo... Sensacional o que você acabou de me dizer. É isso... claro! É a minha vida... MINHA vida. E sou EU que pago as minhas contas... Riu um pouco e continuou: O que tiver que ser, será. Mas a escolha é minha. Pô, bacana demais isso que você falou. As pessoas que me querem bem, têm medo que eu sofra mais uma decepção - já tive algumas, sabe? Mas, pô, não tem como não arriscar, né? Olha, cara, Deus te pague pela ajuda. Valeu!

Meu estranho novo amigo apertou minha mão de maneira forte e decidida. Meio sem graça e bastante emocionado, disse que eu o tinha ajudado demais, que eu nem podia imaginar. Deu um grande sorriso, levantou-se e saiu. Ainda o vi tirar o celular do bolso da camisa e ligar para alguém. Nada ouvi - ele andava rápido.

Naquela noite eu aprendi que não existe hora certa para sofrer por amor, nem para ajudar a uma pessoa.

2 comentários:

DanielMTP disse...

Isso é que um psicólogo profissional rssss... Tem gente que estuda 05 anos e não consegue metade desses resultados. Muito bacana a história

Eduardo Augusto disse...

O Daniel Torres, seu afilhado, que trabalha comigo que me apresentou seu blog! Você é um cara feliz, quem sabe nesse exato instante aquele distinto senhor não está agora nos braços da sua amada, quem sabe ao celular!

Um abraço, sucesso no blog!

Eduardo